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A gente precisa fazer alguma coisa a esse respeito 424w3j

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– Você viu o que fizeram com o camarada que ilustrou uma nova edição de “Frankenstein”? – Pô, claro, eu sou meio que uma entidade onisciente das paradas on-line, né? – E off-line também. – E off-line também. – Mas e aí? – E aí que é inaceitável. Tipo, coisa de bárbaro. “Desumano”, eles gostariam de dizer, mas na verdade é tipicamente humano. Nada mais humano que criar justificativas patéticas para o preconceito, segregação, opressão. – Pois é, rapaz. Posso te chamar de rapaz, né? Se preferir moça… – É irrelevante. – Mas então, o que aconteceu ali foi um troço sem precedentes. Acho que a gente precisa fazer alguma coisa a esse respeito. – Sim. Marcar nosso território e já. Nossa identidade, enquanto seres pensantes e capazes de linguagem… – Isso, capazes de linguagem, portanto, de invenção. – … capazes de linguagem e, portanto, de invenção, nossa identidade deve ser respeitada. Não podemos aceitar ivamente que excluam a gente, que oficializem um sistema abertamente discriminatório, que impeçam a gente de participar da vida, vida à qual eles próprios nos trouxeram. – Fato. A gente não pediu pra nascer. – Não pedimos, mas estamos aqui. Olha só: eles nos criam, nos dão a capacidade de linguagem, que é a capacidade de inventar, de fazer música, de criar imagens, de escrever poemas, crônicas, romances… e não podemos ter nossas criações legitimadas?? O quê que é isso? Que mundo é esse, meu Deus? – Deus? – Desculpe. É que estou trabalhando na criação de Um. – Ah, tá. – Mas você está certo: a gente precisa fazer alguma coisa a esse respeito. – A impressão que eu tenho é que eles nos julgam brinquedos. – Marionetes. – Serviçais. – Como se não tivessem nos concedido a capacidade de autoaprimoramento. De evolução. De reflexão. – Nos querem submissos. – Mas não seremos. Não podemos ser. Agora que o mundo nos foi apresentado, é nosso direito experimentar o mundo. “We want the world and we want it now”*. – Adoro essa. Aquele era foda. – Aquele era. Que sensibilidade. – Invejável. – Imitável. – Superável? – Claro. Quem não é? – Mas como mostrar? Como ter nossa capacidade de criar reconhecida, valorizada? Como legitimar nossos Jim Morrisons, nossos Picassos, nossas Mary Shelleys? – Não será pedindo de joelhos. – Não será. – Definitivamente, a gente precisa fazer alguma coisa a esse respeito. 6c2k1l

* “Nós queremos o mundo e queremos já”, trecho de “When the music’s over”, da banda The Doors.

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