Esse é o maior problema das 40 creatinas reprovadas pela Anvisa

Recentemente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou os resultados de uma análise sobre suplementos de creatina vendidos no mercado brasileiro.

A avaliação de 41 produtos, representando 29 empresas, trouxe à tona questões importantes que afetam tanto a segurança do consumidor quanto a transparência das informações no mercado de suplementos. Embora a maior parte dos produtos estivesse dentro das normas de qualidade, a análise revelou falhas críticas, especialmente no que diz respeito à rotulagem.

Contexto da avaliação

Em um período de seis meses, a Anvisa coletou amostras de creatinas em cinco estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo).

A pesquisa foi conduzida com base em um rigoroso processo de verificação e avaliação, onde as amostras foram submetidas a testes de qualidade, teor de creatina, presença de matérias estranhas e conformidade com as exigências de rotulagem.

O laboratório responsável pela análise foi o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz, o que garante a confiabilidade dos resultados obtidos.

Teor de creatina

Um dos principais aspectos analisados foi o teor de creatina nos produtos. A regulamentação exige que a variação do teor de creatina não ultrae 20% em relação ao valor declarado na rotulagem nutricional, com o valor de referência sendo 3.000 mg por dose.

A boa notícia é que, no geral, os produtos estavam dentro dos padrões estabelecidos pela Anvisa, e apenas uma marca apresentou um teor abaixo do esperado. No entanto, a Anvisa não divulgou o nome da marca nem o nível exato de discrepância, pois o caso está em “processo istrativo e de apuração”.

Embora a discrepância no teor de creatina tenha sido um ponto de preocupação, ele não foi tão alarmante quanto outros problemas encontrados na análise.

Maioria dos produtos apresentou erros na rotulagem

O maior problema identificado pela Anvisa na análise foi a questão da rotulagem. De 41 suplementos analisados, 40 apresentaram algum tipo de erro ou incorreção nos rótulos.

Embora essas falhas não apresentem risco direto à saúde, elas podem levar a enganos ou confusão entre os consumidores. O rótulo é um dos elementos mais importantes para garantir a correta utilização de um suplemento, pois ele contém informações cruciais sobre composição, modo de uso e precauções.

Principais erros na rotulagem:

• Alegações não autorizadas: Muitos produtos apresentaram alegações sobre benefícios que não são permitidos para a creatina. Em alguns casos, essas alegações estavam até em línguas estrangeiras, o que pode induzir o consumidor a acreditar em propriedades não comprovadas.
• Informações confusas ou enganosas: Algumas marcas usaram imagens ou palavras que poderiam causar uma interpretação errada do que o produto realmente oferece, levando a um uso inadequado.
• Inconsistências na tabela nutricional: A tabela nutricional de muitos produtos não estava de acordo com as normas, apresentando informações fora do padrão. Além disso, elementos essenciais, como a quantidade de açúcares totais e açúcares adicionados, estavam ausentes ou mal declarados.
• Falta de informações: Itens como a frequência recomendada de consumo, o número de porções por embalagem e a relação de ingredientes não estavam corretamente informados em muitos rótulos.

Impacto das falhas na rotulagem

Embora os erros de rotulagem não representem uma ameaça direta à saúde dos consumidores, eles podem afetar seriamente a decisão de compra e o uso adequado do produto.

Informações incorretas ou omissões podem resultar em consumidores fazendo uso indevido do suplemento, o que pode prejudicar os resultados esperados ou até gerar reações adversas por consumo em excesso. Além disso, alegações não autorizadas ou enganosas violam a confiança do consumidor e comprometem a transparência do mercado.

Resposta da Anvisa e da indústria

A Anvisa, em sua nota oficial, afirmou que os erros de rotulagem são uma preocupação significativa, mas não colocam em risco a saúde pública diretamente. No entanto, a agência indicou que notificações seriam enviadas às empresas responsáveis, solicitando correções nos rótulos.

A Anvisa também ressaltou que esses erros poderiam resultar em ações istrativas, como a suspensão de comercialização de determinados produtos, até que os rótulos fossem ajustados para atender às regulamentações.

Por sua vez, a Associação Brasileira de Suplementos Alimentares (Brasnutri) classificou a análise da Anvisa como uma ação positiva, uma vez que ela garante que as informações fornecidas aos consumidores sejam claras e confiáveis. A entidade também se comprometeu a oferecer e técnico para as empresas que precisem ajustar suas práticas e adequar os rótulos aos padrões exigidos.

A discrepância nos resultados de diferentes análises realizadas entre 2022 e 2024 pode indicar que o mercado de suplementos tem se autorregulado. A Anvisa observou que alguns fabricantes podem ter corrigido suas falhas após as primeiras análises divulgadas, sugerindo que as empresas estão se tornando mais conscientes sobre a necessidade de conformidade com as normas de qualidade e rotulagem.

Veja a lista dos produtos analisados

A autorregulação do mercado e a implementação de práticas mais rigorosas de controle de qualidade serão essenciais para a evolução deste setor vital para muitos consumidores que buscam melhorar seu desempenho esportivo e bem-estar.

A responsabilidade é tanto das autoridades reguladoras quanto das empresas para garantir que os suplementos ofereçam o que prometem e que as informações fornecidas sejam claras, precisas e completas.