A propagação de desinformação nas plataformas digitais é um desafio cada vez maior para as democracias ao redor do mundo, como destacou a apuração do Estadão. Diante de obstáculos legislativos e da resistência das grandes corporações, diversos modelos de regulação tentam encontrar um equilíbrio entre a responsabilização das plataformas e seu imenso poder econômico global.
Enquanto o Brasil discute, no Congresso, soluções para enfrentar a desinformação, países como Austrália, União Europeia e Canadá já avançam com propostas distintas, apresentando alternativas em meio a intensos debates e à resistência das grandes empresas de tecnologia.
Combate contra a desinformação
No Brasil, o debate sobre a regulação das plataformas digitais tem ganhado força, mas enfrenta desafios significativos. O Marco Civil da Internet, embora tenha sido pioneiro ao estabelecer direitos e deveres digitais, não trata da desinformação. Segundo Ricardo Campos, professor da Universidade Goethe, a lei criou uma “blindagem jurídica” para as plataformas, exigindo decisão judicial para a remoção de conteúdos.
Com o crescimento das redes sociais, tornou-se evidente a necessidade de um novo marco regulatório. O Projeto de Lei 2630/20, conhecido como “PL das Fake News”, quase definiu regras para moderação de conteúdos, mas foi arquivado após resistência das grandes empresas de tecnologia. Uma versão mais suave, o PL 4691/24, pode ser votada em breve.
Enquanto isso, o Ministério da Fazenda trabalha em uma proposta de regulação econômica das plataformas, inspirada no Digital Markets Act da União Europeia. O Supremo Tribunal Federal também está avaliando a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil, que isenta as plataformas de responsabilidade por conteúdos de terceiros, a menos que não removam materiais ilegais após ordem judicial.
Exemplos de outros países
União Europeia: A União Europeia criou duas leis complementares: o Digital Services Act (DSA), que trata da moderação de conteúdos e transparência, e o Digital Markets Act (DMA), que regula a concentração de poder digital. Plataformas com mais de 45 milhões de usuários devem seguir essas normas, sob risco de multas, incluindo a exigência de sistemas contra desinformação e auditorias externas.
Austrália: A Austrália implementou o News Media Bargaining Code em 2021 para garantir remuneração justa aos veículos jornalísticos, gerando polêmica quando a Meta bloqueou notícias, mas depois negociou com a imprensa. Em 2024, tentou expandir a regulação com o Misinformation Bill, enfrentando resistência no Senado.
Canadá: O Online News Act, criado em 2023, foi inspirado pela Austrália e tem como objetivo remunerar os meios de comunicação. Como resposta, a Meta retirou as notícias de suas plataformas no Canadá, o que resultou em uma diminuição no engajamento das organizações jornalísticas
Jornalismo na federal de Alagoas. Paulista de nascença, moro há mais de uma década no estado nordestino. Desde pequena fascinada pelo mundo da leitura e da escrita.