Com 101 anos de história, a Interpol é a maior organização de cooperação policial internacional do mundo. Sediada em Lyon, na França, a entidade conecta atualmente 196 países em um sistema que permite o compartilhamento de dados criminais, a execução de operações conjuntas e a formação técnica de forças policiais.
A principal ferramenta de visibilidade pública da Interpol é a chamada “Difusão Vermelha” (ou Red Notice), uma espécie de alerta global emitido para capturar foragidos de alta periculosidade ou relevância internacional.
Ela não tem poder de prender diretamente, mas serve como base para que autoridades locais ajam conforme suas leis internas e tratados de extradição.
A entrada de Zambelli na lista de procurados
Nesta quinta-feira (5), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teve seu nome incluído nessa lista de foragidos internacionais, fato que a transforma oficialmente em alvo de busca e captura em escala global.
A decisão foi tomada após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atender a um pedido da Procuradoria-Geral da República e determinar sua prisão preventiva.
A parlamentar havia sido condenada recentemente a dez anos de prisão por invasão de dispositivo eletrônico, um crime cibernético que tem ganhado cada vez mais atenção das autoridades judiciais em todo o mundo.
Na última terça-feira (3), antes da ordem de prisão, Zambelli anunciou publicamente nas redes sociais que havia deixado o Brasil e estava a caminho da Europa, fato que agravou ainda mais sua situação jurídica.
A Difusão Vermelha e o alcance da Interpol
A Red Notice não é um mandado de prisão automático, mas representa um importante instrumento de cooperação entre países para localizar e prender indivíduos procurados internacionalmente.
A inclusão de Zambelli nessa lista significa que qualquer um dos 196 países membros da Interpol pode, em tese, detê-la a pedido do Brasil. No entanto, a efetivação da prisão depende da legislação local.
Em algumas nações, a simples presença do nome na Difusão Vermelha já justifica uma prisão preventiva. Em outras, são necessários processos formais de extradição, que podem envolver deliberações políticas, judiciais ou diplomáticas.
Segundo Valdecy Urquiza, atual secretário-geral da Interpol, o objetivo da lista vermelha é justamente permitir que os países possam trocar informações em tempo real, cruzar dados com seus próprios bancos e identificar foragidos com mais eficiência.
Ele destaca que a Interpol não interfere diretamente nas polícias nacionais. Sua função é coordenar e apoiar, sempre respeitando a soberania e as leis locais dos países-membros.
As implicações legais e políticas da fuga
A fuga do território nacional, ainda mais anunciada publicamente, tende a agravar a situação de qualquer réu. No caso de Zambelli, a condição de foragida internacional pode dificultar futuras tentativas de negociação judicial, como pedidos de habeas corpus ou revisão da pena.
Além disso, trata-se de uma figura política em pleno exercício do mandato, o que coloca o caso em um patamar diferenciado em termos de repercussão nacional e internacional.
A Constituição brasileira prevê imunidade parlamentar apenas em situações específicas. A decisão do STF baseia-se na gravidade do crime e no risco de obstrução de justiça, justificando a prisão preventiva mesmo no caso de uma deputada federal eleita.
O fato de ela já estar fora do país reforçou o entendimento de que havia intenção de fuga e evasão do cumprimento da pena.
A presença de Zambelli entre os brasileiros procurados pela Interpol
Com a decisão desta semana, Carla Zambelli torna-se a sétima brasileira atualmente listada como foragida na Interpol. A presença de políticos entre os nomes mais procurados do mundo reforça a tese de que o crime, especialmente o digital e político, já ultraa fronteiras nacionais e exige respostas internacionais coordenadas.
Este é um dado que chama a atenção não apenas pela quantidade, mas pelo perfil dos procurados. Trata-se de um reflexo do aumento do rigor judicial em casos de corrupção, crimes cibernéticos e obstrução de justiça, mesmo quando envolvem figuras públicas.
O desfecho do caso de Carla Zambelli ainda é incerto. Mas uma coisa já é clara: o alcance da lei, com apoio de redes como a Interpol, está cada vez mais extenso, mesmo para aqueles que um dia acreditaram estar acima dela.