Rodolphe Töpffer, o pioneiro das HQs, e ‘Love, death + robots’
Oi, gente.
A Sesi-SP Editora tem publicado várias histórias em quadrinhos que são essenciais para os amantes da nona arte, como é o caso de “Valerian”, e há alguns meses enviou para a coluna um material que é ouro puro: quatro volumes das histórias criadas pelo suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846), considerado o pioneiro das histórias em quadrinhos. Os títulos começaram a ser publicados pela editora a partir de 2017 graças aos álbuns herdados do pai por André Caramuru Aubert, de quem Töpffer é (de acordo com ele) tio-tetravô.
Os álbuns publicados pela Sesi-SP Editora e que chegaram até nossas mãos insolentes são “Monsieur Jabot”, “Monsieur Crépin”, “Monsieur Trictrac” e “História de Monsieur Cryptograme”, lançados originalmente entre 1833 e 1845 na Europa. A editora também publicou por aqui sua primeira HQ, “História de Monsieur Vieux Bois”, criada em 1827 mas que foi publicada apenas uma década depois. O artista suíço havia seguido, de início, os os de seu pai como artista plástico, mas problemas de visão fizeram com que se dedicasse às carreiras de professor, político, escritor e desse os primeiros os no que se tornaria conhecido como histórias em quadrinhos _ incentivado a prosseguir, aliás, por ninguém menos que o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, que teve o ao material antes de ser publicado.
Os quatro álbuns de Rodolphe Töpffer lançados no Brasil ainda não têm os balões característicos das HQs, mas são divertidas, leves, com ritmo e mostram um artista que tinha uma visão crítica, ácida e irônica da sociedade da época, além de defender seus pontos de vista. “Monsieur Jabot”, por exemplo, critica a aristocracia europeia ao contar as desventuras de seu protagonista, desesperado para entrar e ser aceito neste universo, mas que ao mesmo tempo é atrapalhado e comete todo tipo de confusão. Em “Monsieur Crépin”, Töpffer usa do humor para criticar as novidades pedagógicas que tentavam ser introduzidas na educação das crianças, além de ridicularizar a frenologia, pseudociência de viés racista que era popular no século XIX.
Os outros álbuns, por sua vez, apostam mais ainda no humor, além da aventura e o nonsense. “Monsieur Trictrac” diverte ao mostrar as confusões e trocas de identidades entre o protagonista, que sonha encontrar a nascente do Rio Nilo (uma obsessão da época), um ladrão e o chefe da polícia. Por fim, o personagem principal da rocambolesca “História de Monsieur Cryptograme” tenta fugir de todas as formas de uma mulher terrivelmente apaixonada enquanto deseja se casar com outra. Para evitar a bigamia, ele se envolve em toda sorte de aventuras e confusões.
Apesar de nunca ter dito “opa, acabei de criar as histórias em quadrinhos!”, Rodolphe Töpffer merece ser considerado o pioneiro do gênero, dono de um traço elegante, leve, ágil, além de ótimo cronista de seu período. Mesmo quase 200 anos depois, seus álbuns são divertidos e com momentos engraçados e inspirados. Sem poupar ninguém, Töpffer foi um gênio que merece ser mais conhecido.
Também aproveitamos os últimos dias para conferir a segunda temporada de “Love, death + robots”, série de antologia da Netflix. Por causa da pandemia, o “Ano dois” teve menos episódios (oito, ao invés de 18 do volume 1) e histórias com qualidades desiguais _ o que é de se esperar de uma antologia _ mas que valem a pena ser assistidas, nem que seja pela qualidade técnica das animações.
As histórias são pequenos contos de sci-fi, terror ou uma mistura dos dois, incluindo histórias de nomes conhecidos na seara da ficção científica como John Scalzi e Harlan Ellison (“Atendimento automático ao cliente” e “Gaiola de sobrevivência”, respectivamente). Também destacamos “Esquadrão de extermínio”, ado em um futuro no estilo “Blade Runner” em que é proibido ter filhos, e o reflexivo “O gigante afogado”.
Como os episódios são curtos, variando entre os sete e os 18 minutos, dá para assistir a toda temporada em menos de duas horas e discutir depois, com os amigos, quais os preferidos e aqueles que uma vez basta. E que venha em breve a terceira temporada, de preferência com mais e melhores episódios.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.