A orgia de sangue de ‘Invencível’ e a menina superpoderosa de ‘Eu sou Lume’
Oi, gente.
Foi ainda na década retrasada que soube da existência de “Invencível”, HQ publicada pela Image Comics nos Estados Unidos e que havia chegado por aqui pela HQM. Apesar de ter como criador Robert Kirkman (“The Walking Dead”), eu tinha a impressão de ser uma história genérica estrelada por super-herói adolescente; por isso, apesar de elogiada, preferi não gastar com a revista os reais recebidos por trabalhar para os encostos.
Atualmente, tudo que vai para o papel acaba no cinema ou streaming ou TV aberta/por , e daí que “Invencível” virou animação no Prime Video e resolvemos assistir porque poderia render assunto para a coluna. Não havia sequer 1% da expectativa que tivemos com “Patrulha do Destino” ou “Umbrella Academy”, mas ah migas e ah migos… como diria aquele personagem que aparecia nas histórias do Pica-Pau: O QUE ESTÁ ACONTECENDO???
Os minutos iniciais do primeiro episódio foram ok, pareciam mais um amálgama de Superman com Homem-Aranha. Descobrimos que o protagonista é o adolescente Mark Grayson, filho do super-herói mais poderoso da Terra, o alienígena Omni-Man. Ele começa a manifestar os mesmos poderes do pai e decide seguir a carreira de vigilante mascarado, usando o nome Invencível.
Também descobrimos que ele precisa _ no melhor estilo Peter Parker – se virar com o bullying na escola, os hormônios da juventude e as garotas enquanto começa a aprender a usar seus poderes, e prender seus primeiros criminosos a tempo de chegar para o jantar.
Parece mais uma animação leve, para a família, do tipo que a Marvel e a DC Comics fazem há décadas, certo? Pois achou errado, otário! (Rogerinho feelings) O primeiro episódio termina com uma verdadeira orgia de sangue, um massacre que te faz perguntar “CARA, O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? COMO ASSIM? QUEQUEISSO? O QUE ESTÁ ACONTECENDO">
Além da dobradinha TV/HQ de “Invencível”, aproveitamos para ler o arco completo de “Eu sou Lume”, publicada pela Kaiowá Mídia/Universo Guará. Já havíamos comentado, em setembro de 2020, as duas primeiras edições da história que estavam disponíveis no formato digital, e agora recebemos a revista com todas as cinco edições. O resultado, podemos afirmar, é muito bom, misturando super-heróis com política e crítica social.
A protagonista, assim como em “Invencível”, também está na adolescência, mas a vida de Ludimila é nada parecida com a de Mark Grayson. Ela vive na periferia, e o sonho de ser artista tem como obstáculo a realidade marcada pela violência e repressão policial, além do preconceito por causa da cor da pele e sua origem _ principalmente na escola de elite onde estuda graças a uma bolsa concedida como compensação pelo Escândalo das Clínicas, em que entidades “filantrópicas” esterilizavam moradores de Esperanza de forma ilegal.
Essa experiência, porém, resultou no surgimento de pessoas geneticamente modificadas, inclusive Ludimila, e os cinco episódios mostram a jovem tentando entender seus poderes enquanto os políticos canalhas de sempre tentam abafar o escândalo, porém uma vereadora inspirada em Marielle Franco e um jornalista buscam expor os crimes cometidos.
Quando li apenas as duas primeiras edições, comentei que a história tinha alguns defeitos, mas a leitura do arco como um todo deixa a HQ bem redondinha. PJ Kaiowá, que já trabalhou para editoras como a Dark Horse e Legendary e títulos como “Pacific Rim” e “Evil Dead”, manda muito bom ao mostrar a jornada da heroína e contextualizar toda essa trajetória dentro do universo em que ela vive, que é o da pobreza, falta de oportunidades e preconceito.
Além da trama, a arte é outro destaque da publicação, incluindo o trabalho de colorização, coisa de editora grande mesmo. Não sei se teremos mais histórias de “Eu sou Lume”, mas certamente acompanharíamos as novas aventuras da heroína adolescente que não leva desaforo para casa.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
(Além de “Invencível” e “Eu sou Lume”, recomendamos fortemente que siga a playlist da coluna. Tem no Spotify e Deezer, então deixe de vacilação que são mais de duas mil músicas para ouvir enquanto limpa a casa, paga boletos e assina apólices complicadas)