Garbage, Wolf Alice e Liz Phair lançaram novos álbuns, e nós gostamos
Oi, gente.
Os anos 90 deram ao mundo um caminhão de grandes bandas de rock, e dentre elas sempre tive um carinho muito especial pelo Garbage, o melhor grupo a misturar rock, pop e música eletrônica na década. Os dois primeiros álbuns do quarteto formado por Butch Vig (o produtor de “Nevermind”, do Nirvana), Duke Erikson, Steve Marker e a eterna musa Shirley Manson são o melhor exemplo do que o pop noventista poderia oferecer, e depois vieram mais quatro trabalhos que era bons, mas. Então.
Pois “No gods no masters”, sétimo álbum da banda, chegou para empatar o jogo e marcar o gol da virada aos 46 do segundo tempo. É o melhor trabalho do Garbage em mais de duas décadas, e o mais político também. O disco começou a ser trabalhado em 2019, precisou dar um pause por causa da pandemia, mas foi finalizado ainda no ano ado e lançado em 11 de junho.
Durante esse tempo, Shirley Manson escreveu músicas inspiradas em várias questões, fossem os protestos no Chile, entrevistas com George Clinton e Liz Phair em seu podcast, o “The jump”, movimentos como “Black lives matter” e “Me too”, questões pessoais e críticas ao capitalismo, racismo, sexismo e misoginia.
Adicione às letras a voz maravilhosa de Manson, o talento dos marmanjos para criar melodias pop, pesadas, agitadas, baladas, e temos canções matadoras como a faixa-título, “Godhead”, “The men who rule the world”, “A woman destroyed” e “The creeps” e voilà!, olha o Garbage entregando um senhor álbum mesmo depois de quase 30 anos em defesa do cancioneiro pop do novo milênio.
Por falar em novo milênio, preciso escrever um cadinho sobre a Wolf Alice, banda que miseravelmente fui descobrir apenas três meses atrás, quando topei com o grupo tocando “Formidable cool” no “Later… With Jools Holland”, programa da BBC que a por aqui no canal Bis. Gostei tanto que tratei de procurar pelo grupo já no ato da matrícula, descobri que já haviam lançado dois álbuns e lá fomos nós ouvir e curtir e dar a sorte de lançarem o terceiro trabalho, “Blue weekend”, em 4 de junho.
(Um breve parêntese antes do continuar. O canal Bis deveria valorizar mais o “Later… With Jools Holland”, que a cada programa é capaz de levar nomes como Manic Street Preachers, The National, Radiohead, Lorde, Arcade Fire; até a Nação Zumbi já se apresentou lá, e sempre tem um artista novo para descobrir. Seria muito melhor do que ficar exibindo aquelas insípidas versões de boteco para sucessos da MPB/rock BR que acrescentam nada ao original.)
Voltemos à programação normal. “Blue weekend” tem sido celebrado pela crítica mundo afora por mostrar uma evolução no som feito pelo quarteto formado por Ellie Roswell, Joff Oddie, Theo Ellis e Joel Amey. O novo trabalho tem uma sonoridade mais lapidada – mas não confundir com pasteurizada – e melancólica, em que a maioria das músicas trata de relacionamentos e seus desdobramentos e etc. e tal.
O álbum tem um total de onze músicas em enxutos 40 minutos de duração, em que o ouvinte nem sente o tempo ar. É até difícil fazer a tradicional lista de três ou quatro músicas a destacar, então vamos dizer que “The last man on Earth”, “Delicious things”, “How can I make it OK?”, “The beach” e “No hard feelings” são capazes de conquistar os mais céticos quando o assunto é o novo cuticuti que coisinha fofa da turma indie.
Quanto aos fãs mais antigos, certamente ficarão felizes com “Smile” e “Play the greatest hits”, as duas canções mais pesadas deste que pode ser considerado um dos melhores álbuns lançados até agora em 2021.
E já que citamos a Liz Phair lá em cima, a cantora e compositora norte-americana lançou seu primeiro álbum em onze anos. “Soberish” é o sétimo disco de Dona Liz, e meio que tá na área porque David Bowie e Prince morreram e o empresário da moça mandou um “O que você está fazendo com sua carreira? Você não sabe que pode estar morta amanhã?”. O pensamento de que o amanhã poderia não chegar fez com que a cantora sacudisse a poeira e entrasse em estúdio para que não corresse o risco de morrer tendo como último álbum “Funstyle”, que levou uma coça dos críticos.
Ouvir “Soberish”, também lançado em 4 de junho, é como fazer uma viagem até os primórdios daquele rock alternativo feito por mulheres dos anos 90 que tinham muito o que falar. É basicamente um indie pop de letras confessionais, em que Liz Phair canta sobre sexualidade e relembra os tempos de faculdade, o início da carreira, o sucesso e bebedeiras.
No meu caso, confesso que a discografia de Liz Phair se resume a “Whip-Smart” – porque comprei o CD em 1996 e ouvi até cansar – e um pouco do álbum de estreia, “Exile in Guyville”. Talvez tenha ouvido o terceiro álbum, mas o restante realmente ou batido por motivos de sei lá, entende. Por isso, ouvir “Soberish” foi como reviver um (bom) tempo que já ou, graças a músicas como “Spanish doors”, “Bad Kitty” e “The game”, “Good side” e a faixa-título.
“Soberish” pode não fazer sentido para a turma da Geração Z, mas os macacos velhos da Geração X certamente vão sentir um calorzinho no coração e tirar “Whip-Smart” da gaveta, nem que seja para colocar “Supernova” no repeat – ou enquanto termina de escrever esta coluna.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
(Ah, e além das novidades musicais o ah migo leitor e a ah miga leitora podem seguir a playlista da coluna. Tem no Deezer e Spotify.)