Edison Santos: da rua para o orfanato, o trabalho e a arte
O trabalho como metáfora da vida: Com restos de molduras, Edinho faz artesanatos, e com as dificuldades faz uma vida ética, humilde e solidária
Era um sábado quando ele reviveu a própria história. “Eu ia descendo a Avenida Itamar Franco, quando ei numa padaria, tinha duas crianças sentadas na porta, querendo lanchar. ‘Moço, você não tem um trocado para a gente comer alguma coisa">Edinho assumiu o sobrenome Negresco: “Escolhi assim pelo orgulho da cor e porque é um nome artístico bom”.(Foto: Fernando Priamo)
‘É preciso correr atrás’
Quando pensa nos desafios que lhe foram impostos e na força e na coragem que utilizou para enfrentá-los, Edinho sorri. O presente parece um presente. Os amigos? “Muitos pararam no meio do caminho”, lamenta ele, que há dez anos é casado e mora com a esposa no Bairro Bandeirantes. “De 15 em 15 dias, a gente pega nossa afilhada, que está com 4 anos e é filha de uma sobrinha dela”, conta ele. Com a mulher, que trabalha como doméstica, conseguiu comprar um apartamento no Previdenciários, que colocaram para alugar. “Para ter as coisas, é preciso correr atrás, batalhar. Todo esforço é recompensado”, defende, dizendo sentir muito prazer no trabalho na molduraria. “Trabalho no ramo há mais de 20 anos. No início, era numa loja com muita pressão, não tinha tranquilidade, por isso não tive um despertar. Há 15 anos, vim trabalhar nessa loja que estou até hoje e fui percebendo que poderia fazer esses artesanatos com os restos de molduras. Eu fazia só para enfeitar minha casa, e mostrava para os meus amigos, que falavam que eu tinha que levar para a rua”, recorda ele. “Meus trabalhos estão muito ligados a geometria, que era uma matéria que eu gostava muito na escola”, diz. “Um conhecido meu me chamou para vender na feira de domingo da Avenida Brasil. Não conseguia vender nada, porque os trabalhos ficavam no chão. Tinha que arrumar um espaço melhor, para valorizar.” Foi então que ou pela Praça Jarbas de Lery, em São Mateus, e avistou uma feira de artesanatos que acontece aos sábados. Um dia parou e pediu uma barraca. adas duas semanas, instalou-se. E aram-se dez anos. “Hoje monto e desmonto a feira. Chego 5h da manhã e começo a montar a feira por volta das 6h.”

‘Tenho muito para batalhar’
Quando alegra-se, Edinho se enche de fôlego para os sonhos. É cheio deles. “Tenho muito para batalhar, tenho muitas ideias. Penso em, futuramente, ter um balcão para mim, para mostrar minha arte para a molecada. Um ateliê seria ótimo, porque lá em casa não tem espaço para separar as peças e fazer os quadros. Tem muita sobra das molduras. Uso só as da loja onde trabalho. Se eu rodasse as lojas todas da cidade, teria muito mais coisas para fazer. Tenho ideia de fazer quadros grandes. Fiz um de 1,5m x 1m, que está na loja dos artesãos da feira. Tenho ideias, mas me falta espaço”, pontua ele, apaixonado, também, por outra arte. “Antes de partir para o artesanato, tentei tocar como músico nos bares da cidade. Mas era difícil trabalhar de dia e tocar à noite. Comecei a desfocar. Para fazer um som maneiro, é preciso ensaiar, relaxar, não dava para fazer cansado. Acabei desistindo. Mas ainda quero fazer um CD meu, com as músicas que já escrevi”, conta ele, com a voz calma e certa timidez, mas muita segurança. “Sempre fui um cara pacífico, tranquilo, sempre apaziguei.”