Exercício físico após o tratamento oncológico aumenta a sobrevida em até 37%
Pesquisa mosta que pacientes com câncer colorretal que se mantêm fisicamente ativos após o tratamento têm um risco 37% menor de morte
A prática regular de exercícios físicos pode fazer mais do que melhorar o bem-estar de pacientes com câncer: ela também pode ajudar a salvar vidas. Um estudo internacional apresentado durante a ASCO 2025 — reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica — mostrou que pacientes com câncer colorretal que se mantêm fisicamente ativos após o tratamento têm um risco 37% menor de morte, quando comparados aos que não se exercitam.
O estudo, chamado CHALLENGE (Colon Health and Lifelong Exercise Change), foi publicado no New England Journal of Medicine no dia 1º de junho e está sendo considerado um marco na área da oncologia comportamental.
Ao longo de 15 anos, pesquisadores de 55 centros médicos — principalmente no Canadá e na Austrália — acompanharam 889 pacientes que já haviam ado por cirurgia e quimioterapia para tratar o câncer colorretal. Eles foram divididos em dois grupos: um apenas recebeu orientações escritas sobre saúde, enquanto o outro participou de um programa estruturado de exercícios, com treinos supervisionados durante três anos.
Resultados expressivos
Após quase oito anos de acompanhamento, os resultados impressionaram:
A sobrevida livre da doença em cinco anos foi de 80,3% no grupo que fez exercícios, contra 73,9% no grupo controle.
A sobrevida global em oito anos também foi superior: 90,3% contra 83,2%.
Segundo os pesquisadores, essa diferença equivale a uma redução relativa de 37% no risco de morte, resultado comparável ao efeito de uma quimioterapia bem-sucedida.
“Esse é um resultado muito significativo. Mostra que a atividade física pode ter um impacto tão importante quanto o próprio tratamento oncológico”, afirma o oncologista Diogo Bugano, do Hospital Israelita Albert Einstein, que acompanhou a apresentação do estudo presencialmente na ASCO.
Como funcionou o programa
O protocolo de atividade física foi cuidadosamente planejado. Nos primeiros seis meses, os pacientes participaram de 12 sessões presenciais com apoio comportamental e treinos supervisionados. A meta era alcançar pelo menos 150 minutos de atividade moderada por semana, o que equivale a caminhadas rápidas, por exemplo.
Nos dois anos e meio seguintes, o programa seguiu com sessões mensais e e remoto. Mesmo com a queda gradual na adesão ao longo do tempo, os benefícios na saúde e na longevidade dos participantes se mantiveram.
Além da maior sobrevida, os pacientes ativos apresentaram:
Melhora na aptidão física (como maior capacidade respiratória e desempenho em testes de caminhada);
Aumento da percepção de bem-estar e qualidade de vida.
Curiosamente, não houve mudanças expressivas no peso corporal, o que indica que os efeitos positivos estão mais relacionados a mecanismos metabólicos, inflamatórios e imunológicos — e não apenas à perda de peso.
“O paciente não precisa começar imediatamente, nem se cobrar por resultados rápidos. No estudo, os participantes iniciaram os exercícios, em média, três meses após o fim da quimioterapia, e mantiveram a prática por pelo menos dois anos. É um compromisso de longo prazo com a própria saúde”, explica Bugano.
Dieta também influencia
Durante o mesmo congresso, outro estudo chamou atenção para o papel da alimentação na sobrevida de pacientes com câncer colorretal.
Pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute, nos EUA, analisaram a dieta de 1.625 pacientes e constataram que aqueles com alimentação inflamatória — rica em carnes vermelhas, ultraprocessados e certos peixes — tinham um risco 87% maior de morte, em comparação com os que seguiam uma dieta mais equilibrada, à base de vegetais, carnes brancas e oleaginosas.
Embora não tenha sido comprovada uma redução na reincidência da doença, o estudo mostrou que pacientes com dieta mais saudável vivem mais e têm melhor resposta aos tratamentos — ou ao menos enfrentam os desfechos da doença com mais resistência.
Câncer colorretal em alta
O câncer colorretal é o terceiro tipo mais comum no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A previsão é de que quase 46 mil pessoas sejam diagnosticadas entre 2023 e 2025.
A boa notícia é que há formas de melhorar o prognóstico: um estilo de vida mais saudável, que combine atividade física regular e alimentação balanceada, pode fazer toda a diferença.
“Cada vez mais, vemos que não basta tratar o tumor — é preciso cuidar do paciente como um todo. O exercício físico e a nutrição devem ser encarados como parte essencial do tratamento oncológico”, conclui o oncologista Diogo Bugano.
Tópicos: tratamenton oncológico