Henrique tem mais de 300 mil seguidores no Instagram e usa as redes para produzir conteúdos voltados para questões raciais e de classe (Foto: Leonardo Costa)
Tão importante quanto conversar com pessoas que viveram a História e podem contá-la a partir de suas experiências e narrativas, é ouvir jovens que ainda arão pelo mesmo processo. Mesmo com apenas 16 anos, Henrique Gabriel Soares Costa é um juiz-forano conhecido por sua consciência social e pela visão progressista no que diz respeito à sociedade. Com mais de 300 mil seguidores no Instagram, o jovem utiliza as redes sociais para produzir conteúdos, sobretudo, voltados para questões raciais e de classe.
O jovem chegou ao alto do Morro do Cristo, local onde foi marcada a entrevista, com seu pai e sua avó – que em momento nenhum deixaram de irar as falas do filho e neto com um olhar atento e carinhoso. Morador do Bairro Marumbi, na Zona Leste de Juiz de Fora, “Henrique da 04”, como é conhecido e com referência ao número da camisa no futebol, tem em sua memória diversos momentos dentro de campo. Ele conta que venceu títulos e teve muitas conquistas no esporte.
Em reportagem publicada pela Tribuna em 2020, o pai, Wesley Costa Marques, compôs uma música com o objetivo de levar a autoestima do filho, que tinha acabado de ser dispensado em peneira do Corinthians: Pique do Neymar, com letra carregada de mensagens de persistência. A partir de então, Henrique teve como base sua maior inspiração – seu pai – e começou também no ramo da música. “Cantei sem compromisso nenhum e deu certo na internet. Continuei esse legado”, afirma com um sorriso no rosto. Sempre que produz conteúdos artísticos, o jovem faz questão de abordar temas que precisam de espaço na sociedade.
Inclusive, em encontro com Filipe Ret há cerca de um mês, Henrique vestia camisa com os dizeres “só consegue ser livre quem tem fé na imagem do espelho”. Na ocasião, presenteou o artista com uma igual. Ele afirma que aprendeu a ter fé nesse caso. “Entendo que nós, enquanto povo negro, temos que ter autoestima. Fomos, de certa forma, roubados nos mais de 300 anos de escravidão. Precisamos ter fé em nós mesmos e acreditar que a gente consegue chegar lá, porque, de fato, conseguimos.
Durante a entrevista, Henrique produziu um curto poema para parabenizar os 175 anos de Juiz de Fora:
“Minha linda Princesa de Minas: terra do queijo, terra da gente. Ó, minha cidade querida. De Manchester mineira foi apelidada, por sua grande força industrial. Um solo cultivado pelos negros na época colonial, e hoje dá voz aos negros nessa data tão especial. Parabéns, Juiz de Fora, pelos seus 175 anos de história.”
Durante entrevista no Morro do Cristo, Henrique esteve acompanhado pelo pai, Wesley Costa Marques, e pela avó; ele destaca a importância da família em sua formação e trajetória (Foto: Leonardo Costa)
‘Invisíveis sendo mais visíveis’
Apesar da pouca idade, Henrique tem ideia de como gostaria que fosse o futuro da terra em que vive. “Enxergo Juiz de Fora como uma cidade mais igualitária, com mais pessoas negras em áreas importantes – como da medicina, empresarial e de engenharia. Também vejo os invisíveis sendo mais visíveis no futuro.”
Além disso, questionado se, dentro da consciência que possui, a cidade espelha o que espera dela atualmente, o jovem nem hesita em responder que “sim”. “Acredito que Juiz de Fora tenha bastante potencial para se tornar um município ainda melhor do que já é. É uma cidade muito segura e muito boa para se morar, em comparação a outras do nosso Brasil.”
Para finalizar a conversa, Henrique aproveita a visibilidade que tem para enviar uma mensagem aos jovens de Juiz de Fora que, assim como ele, sonham com um futuro melhor para a cidade e para os mesmos. “Da mesma forma que incentivo nos meus vídeos, é importante sempre focar na leitura, no estudo, no esporte e, sobretudo, no caminho certo. Não se deixe desviar, não escute a cabeça das pessoas falando que você não consegue, porque você consegue, sim. Se você for no caminho, vai dar tudo certo na sua vida.”
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