Raiz no samba e na comunidade: Sandra Portella se declara ao carnaval juiz-forano e continua história da mãe
Cantora relembra momentos vividos na cidade; relação com Juventude Imperial, do Furtado de Menezes, marcou sua vida
Perguntada sobre memórias especiais da vida em Juiz de Fora, Sandra Portella não hesita em citar suas raízes. “Tudo começa na minha comunidade.” Nascida na Vila Olavo Costa, com convívio no Furtado de Menezes, ambos na Região Sudeste da cidade, a cantora destaca que foi criada dentro de quadra de escola de samba, levada pela mãe – a histórica carnavalesca Lecy do Samba. “A afinidade com o samba vem de nascença.”
Sinônimo de simpatia, Sandra foi descoberta como artista enquanto trabalhava em um supermercado da cidade. “Um amigo me ouviu cantar e elogiou minha voz. Me levou para um estúdio para gravar um programa de TV de lançamento de artistas. Não deu certo, mas o homem do estúdio gostou da minha voz e me convidou para lançar o CD de composições dele.”
Ela começou cantando MPB, em festas e bares em Juiz de Fora e Santos Dumont. Depois, ou pelas bandas Angú de Caroço, de forró, e Realce, que considera a sua “escola musical”. Chegou a cantar sertanejo, jazz, bossa nova, soul e outros gêneros antes de ser reencaminhada para sua raiz: o samba.
Muito da relação dela com o gênero musical e com a cidade a por sua mãe, que a apresentou ao mundo carnavalesco. “Tenho muito orgulho de ter esse DNA dela. Sempre foi mulher de comunidade. Foi compositora da Juventude Imperial e criou o hino da escola.” Nesse momento, a emoção tomou conta: Sandra solta a rara voz para cantar uma música feita pela mãe há mais de 40 anos, para um concurso de aniversário da escola. “O samba da minha própria vida”, finaliza o trecho.
Seguindo os os da mãe, o primeiro palco de Sandra foi a Juventude Imperial, escola de samba do Furtado de Menezes. “Ficava vendo os ensaios e comentava que gosto de cantar. Minha mãe pediu e deixaram. Aos 15 anos, fui colocada ao palco. Já era apaixonada pela escola e isso cresce cada vez mais. Me sinto pertencente à Juventude e vice-versa: é a minha escola, minha casa.”

‘O samba e a música me salvaram’
Em 2025, comemora 25 anos de carreira. Sandra define sua trajetória da mesma forma que a si mesma: intensa. “Minha vida é recheada de experiências musicais. Sou uma aprendiz da música. Carrego uma bagagem grande com tudo o que vivi e posso ar coisas boas para as pessoas com o repertório rico que captei.”
Aos 52 anos, o que não falta a ela são momentos especiais em Juiz de Fora, como o réveillon no Calçadão da Rua Halfeld. “Era muito bacana. Reunia toda a sociedade juiz-forana.” Também canta em eventos culturais da cidade. O Cine-Theatro Central, cenário da entrevista, é um ponto especial para a cantora: foi onde lançou dois CDs: um pela Lei Murilo Mendes e outro independente, com produção do maestro Rildo Hora, “casa lotada” e “energia lá em cima”.
“A pequena Sandra não imaginava alcançar tudo isso. É uma realidade distante para nós da periferia. Vivemos um dia por vez, com tanta dificuldade que não sabemos o que vai acontecer no dia seguinte. Já estive em lugares inimagináveis. Imagine Sandra, do Furtado de Menezes, na casa da Alcione, no aniversário dela, cantando. No aniversário do Zeca Pagodinho, sendo convidada e recebida por ele na cidade do samba.”
A cantora reforça que sempre lutou pela sua carreira, pelo seu trabalho e, principalmente, pelo seu samba. Pelo que a para as pessoas com a alegria que canta. “Sempre aliviou minhas dores. O samba e a música me salvaram”, finaliza.

Carnaval em Juiz de Fora
Já houve tempos melhores no carnaval juiz-forano, destaca Sandra. “Espero que retorne e os problemas saiam de circulação ou melhorem. A comunidade precisa. Os blocos ainda acontecem, mas as Escolas de Samba não pode ser deixadas de lado. Carnavalescos incríveis são exportados para fora. Conheço alguns que foram para o Rio de Janeiro, Três Rios e até Espírito Santo. O carnaval de JF já foi o segundo maior do Brasil: por que não voltar com força total, bem organizado e fiscalizado">Sandra recebeu o troféu Pandeiro de Ouro como melhor intérprete de samba em Juiz de Fora – desfilando pela Mocidade do Progresso na época. Além disso, no Rio de Janeiro, foi indicada como melhor cantora, disputando com Leci Brandão. Ainda foi campeã pelo Unidos do Ladeira como intérprete.
“Fico muito feliz de ser desse meio, de participar disso. Amo ver as escolas de samba, o povo e o movimento. As escolas precisam do espaço delas. Acho que os órgãos públicos deveriam ter essa visão para não deixar morrer. Depois para recuperar é mais difícil.”