Sem teleférico, mirante do Eldorado deve retornar ao Município
Estação de reenvio do projeto inacabado do Jardim Botânico da UFJF foi erguida no espaço público e acabou com área de lazer

Com o projeto inacabado do teleférico do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o antigo mirante do Bairro Alto Eldorado, na Zona Nordeste, onde chegou a ser erguida uma estrutura para estação de reenvio do equipamento, deve retornar ao Município. O acordo feito há mais de dez anos previa que, caso as atividades não fossem iniciadas até 2024, o terreno seria devolvido. Antes do projeto, o espaço público era frequentado por moradores, que anseiam pela volta da área de lazer, com uma bela vista da cidade. Apesar do prazo expirado, a situação permanece a mesma, enquanto as partes afirmam estarem em tratativas.
Enquanto isso, a população do entorno do antigo mirante enfrenta o conflito entre as boas lembranças do ado e a realidade da construção abandonada. “Esse assunto é muito caro para mim, porque desde garoto eu frequentava o local, muito antes de existir o mirante. Ali era conhecido como pico do Alto Eldorado. Às vezes, a gente fazia uma incursão ali por uma trilha e chegava lá em cima. Tinha uma sensação de conquista muito grande, porque é uma vista bonita, e a trilha era totalmente natural. Era uma mini escalada, então era muito emocionante fazer esse caminho. Uma vez por ano, de mês em mês, a gente fazia essas incursões, era muito divertido. Depois houve uma obra e construíram um mirante. Fizeram uma pavimentação, um guarda-corpo, e o local ou a ser frequentado por mais pessoas”, recorda o empresário Cristiam Rocha, de 53 anos, sobre as décadas de 1980 e 1990.
Com a inauguração do mirante, o o também ficou mais fácil, segundo o morador, chegando ao ponto final do Alto Eldorado. “Já no fim dos anos 90 era possível subir de carro e desfrutar da vista privilegiada. Aos domingos era muito comum as famílias, as crianças, irem lá para ver o pôr do sol, soltar pipa. Era animado o local, ficava bem movimentado, principalmente no final da tarde.” Cristiam destaca que dali era possível ter, praticamente, uma visão 360 graus de Juiz de Fora. “Isso foi perdido para a comunidade, que hoje não tem mais essa opção de área de lazer, tão escassa, sobretudo aqui nessa região. E apesar do intuito da obra ter sido exatamente melhorar as opções de lazer e turismo, infelizmente, o projeto não foi para frente”, lamenta.

Obra longa e bate-estaca na estação do teleférico
O empresário Cristiam comenta que a obra da estação de reenvio do teleférico do Jardim Botânico da UFJF foi muito longa e causou transtornos a residentes próximos. “O bate-estaca funcionava ali a fio por semanas, justamente para poder sustentar a estrutura do teleférico. Foi um investimento muito alto e, hoje, é difícil até imaginar como reverter. O que seria possível fazer ali">Jardim Botânico. O equipamento, comprado em setembro de 2013 por €284.818,19 (euros) – ou por R$ 889 mil pela cotação da época -, foi negociado por R$ 1.605.184,19, e o valor seria investido em ações de ensino, pesquisa e extensão.
A decisão sobre a venda foi tomada cinco anos antes, em maio de 2018, pelo Conselho Técnico do Jardim Botânico, que apontou a não conformidade do Trenó de Montanha com o Projeto Político Pedagógico e o Plano de Ações de Educação Ambiental do espaço, considerando sua instalação um fator de risco para a fauna e para a flora. Outras duas tentativas de venda já haviam sido feitas pela UFJF.
O contrato para a instalação do trenó de montanha e do teleférico no Jardim Botânico foi assinado em 2013 pela UFJF com a Topus Construtora S.A, ainda na gestão do ex-reitor Henrique Duque. No final de 2017, uma comissão de sindicância investigativa foi instaurada pela UFJF para apurar e analisar os dados orçamentários e financeiros relativos ao documento.
“O valor total dos equipamentos para o teleférico e o trenó de montanha, já incluídos gastos relativos aos projetos executivos e despesas de importação, estariam avaliados em reais, pelas cotações para o euro e franco suíço do dia 18 de setembro de 2013, em R$ 7.725.357,75”, diz o relatório final da sindicância, conforme matéria publicada pela Tribuna em 2022, a partir de documentos relacionados ao processo movido pela Topus Construtora S.A., que busca na Justiça a rescisão do contrato e uma indenização por parte da UFJF por danos materiais na ordem de R$ 5 milhões.
Além das estações no Alto Eldorado e no próprio Jardim Botânico, as torres da linha de transporte do teleférico também chegaram a ser erguidas no trajeto pela Mata do Krambeck, e as cabines foram compradas. Em relação à viabilidade ou não do equipamento de lazer atualmente, a universidade apenas pontua que o processo continua judicializado e encontra-se na fase de instrução probatória. A UFJF garante que não há custos para a instituição relacionados ao armazenamento das cabines, que permanecem na Suíça.
No fim de 2019, a instituição disse à Tribuna que “só depois de vencida a questão judicial” haveria a possibilidade “de garantias institucionais para a importação”. Já no início de 2022, a universidade informou ao jornal que as estruturas do teleférico já fabricadas, e enviadas ao Brasil, se encontram depositadas no Campus. “Como há uma questão judicial, com os serviços paralisados, algumas estruturas, ou componentes do sistema, não saíram da fábrica na Suíça ou não entraram em produção.” Naquele ano, a instituição havia se posicionado e não descartado uma possível instalação do teleférico. “Caso se conclua que há viabilidade técnica, sem o risco de causar danos ao Jardim Botânico, à sua flora e fauna, e se possa contar com recursos orçamentários capazes de cobrir as despesas para execução da obra, pode-se optar por dar continuidade à instalação dos equipamentos e, com isso, aproveitar toda a infraestrutura já iniciada”.