Lula defende ministro
Em entrevista coletiva, presidente Lula defendeu discussão prévia dos projetos do Governo antes de chegarem ao Congresso
A entrevista coletiva do presidente Lula, nesta terça-feira, deu espaço para explicações e recados para dentro e fora do Governo. Convencido pela equipe de comunicação que era hora de falar, ele, por mais de uma hora, respondeu a todo tipo de pergunta. Defendeu o ministro Alexandre de Moraes, criticou o Governo de Israel, a quem de novo classificou de genocida, e tratou de questões domésticas, como o seu ministério. Disse estar satisfeito com a equipe, mas itiu que muitos vão sair no início do ano que vem para disputar cargos eletivos no pleito nacional.
O dado que mais chamou a atenção, porém, foi a defesa que fez do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Há uma semana, o ministro foi ao inferno ao mandar para o Congresso um projeto aumentando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A reação do mercado e dos políticos levou a um recuo imediato, que teve como virtude reconhecer o erro, mas que também deixou a impressão de improvisação. Lula disse que o ministro não errou, talvez tenha pecado em não discutir a matéria com as lideranças antes de seu encaminhamento.
Tal fato, porém, é autoexplicativo. Quando não se discute com os atores a elaboração de um pacote de tal importância, o Governo dá mostras de ter problemas na sua coordenação. A entrevista foi para apontar que tal fato não deve se repetir. Depois de falar com os jornalistas, o presidente teria um almoço com os políticos para, a partir daí, anunciar um novo projeto.
Como vai ficar pelo menos uma semana em visita oficial à França, o presidente tinha pressa em jogar água na fervura, mas, na sua volta, terá que fazer ajustes na dinâmica do Governo. Ele mesmo itiu que não tinha discutido a matéria de forma adequada, o que é um problema, uma vez que, ao fim e ao cabo, a conta caiu sobre o seu colo.
Nesta quarta-feira, se não houver mudanças de planos, a Genial/Quaest vai divulgar uma nova rodada de pesquisa envolvendo o mandato Lula. Os pesquisadores foram às ruas no fim de semana e perguntaram aos entrevistados o que acham do Governo e do próprio presidente. Na última publicação, o cenário era preocupante.
Como Lula estará fora do país e a pesquisa sai apenas nesta quarta-feira, não dá para mudanças imediatas, mas os números serão emblemáticos para a tomada de decisões. A economia está estável, o número de empregos cresceu, mas ainda há a percepção de descontrole.
Há, pois, a demanda econômica, que é permanente em qualquer mandato, mas também a questão política. O presidente garantiu que, se estiver “lindão” e com saúde no ano que vem, a oposição não terá nenhuma chance de voltar ao poder. Trata-se de uma aposta, mas ele sabe que, diante de uma situação imponderável, é necessário se articular em todas as frentes. A defesa de Fernando Haddad pode ter sido um sinal. No entanto, como dizia o falecido governador de Minas Magalhães Pinto, política é como uma nuvem: a cada momento está em um lugar.