175 anos de Juiz de Fora: pontos turísticos contam história de cidade ‘com muito o que fazer’
Tribuna conversou com especialistas, que mostram como os pontos da cidade estão relacionados intimamente com sua história e lançam também um olhar para o futuro

São 175 anos de Juiz de Fora. Uma cidade nem pequena, nem grande. Que recebe tantos estudantes, todos os anos, e que os vê indo embora. No foco de grandes acontecimentos do país e à margem das grandes narrativas. Mais perto do Rio de Janeiro que de Belo Horizonte. Parte da Zona da Mata, com municípios tão diferentes entre si. Uma cidade que, abarcando o primeiro museu do estado, sendo a única da América do Sul com cerveja artesanal sendo produzida dentro de uma igreja, com um dos teatros mais bonitos do país, sem falar das várias experimentações arquitetônica, ainda há quem diz que “não tem o que fazer”. Na comemoração de aniversário da cidade deste ano, a Tribuna conversou com especialistas, que mostram como os pontos da cidade estão relacionados intimamente com sua história e lançam também um olhar para o futuro a partir de si, mostrando que conhecer uma cidade é a melhor forma de viver nela.
Morro do Imperador

O Morro do Imperador, também conhecido como Morro do Cristo, foi batizado assim depois de uma visita de Dom Pedro II, em 1861. “É um dos primeiros atrativos da cidade. Quando ele (Dom Pedro II) veio e escreveu sobre o morro em seu diário, impressionado com a beleza da vista, as pessoas começaram a ir ver”, conta Inácio Botto, turismólogo. Esse cartão postal da cidade, para ele, não pode ficar fora das rotas, até para repetir essa experiência. São 930 metros de altitude e uma vista panorâmica da cidade, que desde a vinda de Dom Pedro II se transformou bastante.
Mercado Municipal
O Mercado Municipal é um ponto turístico que reúne arquitetura, história e gastronomia — “e isso tudo é a cara de Minas”, completa o historiador e professor Marcos Olender. Isso porque o local abrigou a Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, que foi um grande marco da industrialização mineira e uma das responsáveis pelo município ser chamado de “Manchester Mineira”. Também é lá que aconteceu um incêndio, em 1991, que destruiu o complexo e também onde aconteceu o movimento artístico de preservação chamado “Mascarenhas, meu amor”. Parte dessas mudanças e desafios podem ser vistos de perto, agora dentro do Mercado, na galeria Nívea Bracher, inaugurada neste ano. Além disso, com a reforma e reabertura em 2025, também é possível encontrar produtos variados e opções em praça de alimentação. “São várias atrações culturais e artísticas de graça. São espetáculos disponíveis para a população utilizar e valorizar a história do próprio mercado”, destaca Inácio.
Museu de Arte Mariano Procópio
O Museu de Arte Mariano Procópio carrega o título de primeiro museu do estado e de segundo maior acervo imperial do país. Além disso, é um refúgio verde no meio da cidade, sendo feito para que as pessoas possam aproveitar o dia inteiro. “O acervo é impressionante. Temos vestimentas e mobílias originais da família real”, conta Inácio. Além disso, o museu também é responsável pelo quadro de Tiradentes esquartejado, uma obra de arte central para a história do Brasil e, desde que reabriu em sua totalidade, também ou a trazer questionamentos sobre o espaço dos trabalhadores diante do museu — confrontando diversas épocas em um só espaço.
Cine-Theatro Central
O Cine-Theatro Central é um marco do Centro da cidade, e que, desde 1929, desempenha papel vital na cultura juiz-forana. O teatro foi projetado pelo arquiteto Raphael Arcuri, com um estilo eclético, que mistura referências de art déco e arte neoclássica. Além disso, há as pinturas de Ângelo Bigi, que fazem com que o teatro seja considerado um dos mais bonitos do país. Fora os muitos alunos que se formaram lá, tendo também esse lado mais afetivo. “O teatro também foi responsável por receber e lançar muitas vozes, durante os festivais de música”, diz o turismólogo. Ainda hoje, é ele que atrai tantos visitantes para shows e que trouxe, por exemplo, o novo filme de Caio Blat para ser filmado em Juiz de Fora.
Cervejarias artesanais
Não é exatamente um ponto turístico, mas atrai muitos visitantes para Juiz de Fora e é algo que está totalmente ligado com a cultura da cidade. A tradição de fazer cerveja artesanal começou no século 19, quando os imigrantes alemães vieram para a cidade, e continua atualmente, com tantas cervejas sendo feitas desde o começo e tantas outras surgindo. Nessa mesma tradição, há a Igreja da Glória, única igreja na América do Sul que também faz a própria cerveja.
Galerias do Centro

Perder-se nas galerias do Centro é um clássico juiz-forano. “As pessoas se fascinam com essas ruas cobertas”, destaca Olender. Ele também entende que as galerias têm suas características próprias, seus comércios mais ou menos tradicionais e, ainda, são pontos de encontro entre as pessoas. Como cada uma tem uma arquitetura, as mais de 40 galerias também são diferentes entre si, e contam com uma essência juiz-forana tão parecida que fazem que só um bom morador seja capaz de se localizar.
Campus da UFJF
O campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi criado em 1960, por conta de um ato do então presidente Juscelino Kubitschek. Todo o complexo teve construção em ano 1969, e todos os prédios podem ser ados a pé, caso seja feito um esforço extra. “A universidade tem um projeto muito bem sucedido. É um espaço que comporta todas as unidades e com um paisagismo bem interessante, que atrai não só estudantes, mas quem vai correr, fazer exercícios, piqueniques e outras atividades de lazer”, diz Marcos.
Um olhar para o futuro
Para que esses pontos turísticos existam e resistam ao tempo, no entanto, é preciso vontade política de valorização dentro da própria cidade. Por isso, os especialistas também citaram pontos que, em um futuro, sonham em ver incluídos nessa lista para que possam contar novas histórias.
Outras centralidades
A valorização de espaços fora do Centro de Juiz de Fora é algo que Olender entende como importante, até para novas potencialidades turísticas, mostrando como uma cidade pode se movimentar e mudar com o tempo. “Todo bairro de Juiz de Fora, da Zona Sul a Zona Norte, tem características próprias que devem ser preservadas e, depois, pensadas para atrair pessoas até aqueles lugares. A Zona Norte, por exemplo, tem várias áreas que poderiam ter esse trabalho, assim como os distritos de Monte Verde e Rosário de Minas. Falta um planejamento que fortaleça o usufruto dos moradores e de gente de fora”, diz.
Parque Estadual da Mata do Krambeck
Outro grande sonho, que deve fazer parte de novas rotas da cidade, é o Parque Estadual da Mata do Krambeck, uma unidade de conservação que preserva a floresta e a biodiversidade local. O nome foi dado devido ao também imigrante alemão Detlef Krambeck, que foi dono da propriedade, bem antes que ela fosse adquirida pelo estado. “A grande expectativa para gente, que trabalha com turismo na cidade, é a abertura do parque estadual. Que ele esteja aberto e movimentando o comércio, o setor hoteleiro e as pessoas da cidade”, destaca Inácio.
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